'Mesmo que parta daqui, deixei uma coisa feita', disse Mestre Camarão                           

Sanfoneiro fez afirmação ao G1 durante o São João de Caruaru, em 2014.
Camarão morreu na manhã desta terça-feira (21), aos 74 anos, no Recife.

Camarão foi o primeiro a se apresentar no domingo (1º) (Foto: Paula Cavalcante/ G1)         Camarão durante apresentação no São João de Caruaru, em junho de 2014 (Foto: Paula Cavalcante/ G1)
Mestre Camarão, como era conhecido o sanfoneiro Reginaldo Alves Ferreira, esteve no São João de Caruaru no ano passado. Ele subiu ao palco no dia 1º de junho junto ao filho Salatiel e, durante o show, um dos alunos de Camarão o homenageou, tocando sanfona. À época, o músico disse aoG1 qual era o sentimento em transmitir a arte. "Eu acho muito gratificante. Mesmo que eu parta daqui, deixei uma coisa feita".
Durante a entrevista, o sanfoneiro também falou sobre a receptividade do público mais jovem. "Sei que têm pessoas aqui que tenho idade de ser avô. Quandos eles vêm me assistir, para mim, é uma satisfação".
Artistas da região se sensibilizaram com a perda do Mestre. "Para a música pernambucana, é uma perda muito grande. Principalmente os caruaruenses, porque Camarão sempre deu esse apoio. Fiz uma música com Totonho em homenagem a ele: 'Convidaram ele, Camarão pra sanfonear. Não fez corpo mole, tocou a noite inteira'. O nordeste inteiro está de luto", afirmou o cantor Azulinho, filho de Azulão.
O compositor e cantor Onildo Almeida também falou sobre a importância de  Camarão. "Era um sanfoneiro do nível de Luiz Gonzaga e de Dominguinhos. Se destacava por ser um grande músico, pela pessoa humana também: sempre humilde, solícito, ajudando aos outros. Para nossa música é alguém insubstituível".
Também em junho de 2014, Camarão participou do quadro Coisas da Terra, doABTV 1ª Edição. As entrevistas foram exibidas no dia 7 e no dia 14. Veja no vídeo acima a primeira parte da conversa.
Morte
O Mestre Camarão morreu na manhã desta terça-feira (21), aos 74 anos. De acordo a família do artista, ele estava internado há seis dias no Hospital Santa Joana, no bairro do Derby, área central do Recife, onde tratava uma infecção intestinal. Ainda não há informações sobre velório e enterro.
Camarão tocou ao lado do filho Salatiel (Foto: Paula Cavalcante/ G1)Camarão tocou com filho Salatiel no São João de
Caruaru, em 2014 (Foto: Paula Cavalcante/ G1)
Salatiel, filho de Camarão, informou ao G1 que o pai era paciente renal e sentiu-se mal na última segunda-feira (13). "Ele fez uma consulta, passaram medicação e ele voltou para casa. Na quarta [15], foi fazer hemodiálise na Unimed e a médica indicou que ele fosse internado. Na quinta [16], ele deu entrada na UTI do Santa Joana, onde descobriram que umas feridas no intestino grosso provocaram uma infecção instestinal. Agora de manhã, ele ia fazer hemodiálise, mas a pressão dele baixou muito, e o coração não resistiu", contou.
De acordo com o site da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Camarão nasceu em Fazenda Velha, Brejo da Madre de Deus, no Agreste pernambucano, em 23 de junho de 1940. Radicado no Recife há 25 anos, ele vivia das aulas de sanfona que ministrava na sua Escola Acordeom de Ouro, localizada no bairro de Areias, na Zona Sul. Ele era casado com Maria da Penha e deixou quatro filhos - Salatiel, Sérgio, Sandro e Tadeu. O artista foi nomeado Patrimônio Vivo de Pernambuco, por meio da Lei estadual nº 12.196, de 2 de maio de 2002.
Trajetória
A página da Fundaj dedicada ao Mestre Camarão informa que ele aprendeu a tocar sanfona observando os movimentos do pai, o sanfoneiro Antônio Neto, e se aperfeiçoou ouvindo Luiz Gonzaga e estudando os métodos de Mário Mascarenhas. Iniciou a carreira artística em Caruaru, no Agreste pernambucano, onde tocava nas feiras e festas da região.
Aos 18 anos, conheceu Luiz Gonzaga, com quem participou de 28 gravações, entre discos long plays, 78 rotações e CDs. Camarão formou com os músicos Jacinto Silva e Ivanildo Leite o primeiro conjunto musical, o Trio Nortista e, em 1968, criou o primeiro grupo de forró do Brasil, a Banda do Camarão, e ainda a Orquestra Sanfônica de Caruaru.
O repertório era composto por ritmos regionais como xote, xaxado, baião, forró e arrasta-pé. Mestre Camarão costumava a acompanhar grandes nomes da música nordestina, como Dominguinhos, Santanna, Marinês, entre outros.
Em 1961, representou Pernambuco junto com o Mestre Vitalino no primeiro aniversário de Brasília, a convite do então presidente da República, Jânio Quadros. Em 2002, foi a São Paulo apresentar-se no projeto Sanfona Brasil. Em 2004, participou do projeto "O Brasil da Sanfona".
Camarão foi homenageado por um dos alunos dele durante o show (Foto: Paula Cavalcante/ G1)Camarão foi homenageado por um dos alunos durante show, em junho de 2014 (Foto: Paula Cavalcante/ G1)

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