domingo, 5 de outubro de 2025

Serra Branca vira porta de entrada do bolsonarismo no Cariri

Serra Branca, historicamente conhecida por sua pluralidade política e tradição de diálogo, começa a ser moldada como um novo epicentro do bolsonarismo no Cariri. A cena recente, protagonizada pelo ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga, ao lado de Efraim Morais e do grupo político do prefeito Alexandre, simboliza mais que uma visita — é um gesto de ocupação territorial, um movimento calculado para enraizar o projeto da extrema-direita em uma das regiões mais simbólicas da Paraíba.

Queiroga, que muito provavelmente nunca havia pisado em Sucuru — comunidade rural de alma simples e história densa — foi apresentado ao território com pompa de comício. O ex-ministro que, durante a pandemia, oscilou entre o negacionismo e a omissão, tenta agora vestir o figurino de candidato “do povo”, em um cenário cuidadosamente construído por quem busca transformar Serra Branca em vitrine ideológica.

Ao seu lado, Efraim Morais, atual senador e nome de confiança do bolsonarismo para disputar o governo da Paraíba, pavimenta o terreno com apoio local e promessas vagas. Seu irmão, George Morais, e o deputado Tovar Correia Lima completam a comitiva — rostos que tentam se consolidar como herdeiros da pauta bolsonarista em solo caririzeiro.

A simbologia do ato não é pequena: Serra Branca, que já foi palco de resistências populares e de um eleitorado crítico e independente, agora é tratada como “polo institucional” do bolsonarismo. É o laboratório de uma nova estratégia — uma que aposta na penetração cultural e na fidelização emocional do eleitorado sertanejo, usando o discurso de fé, ordem e moralidade como escudo político.

Mas é preciso questionar: o que significa essa conversão do Cariri ao bolsonarismo? É um realinhamento ideológico, ou apenas a adaptação pragmática de velhas elites locais a um novo centro de poder? O que está em jogo não é apenas uma eleição — é a tentativa de capturar o imaginário político de uma região que sempre soube pensar por si.

Entre bandeiras levantadas e discursos ensaiados, o que se viu em Serra Branca foi menos espontaneidade e mais encenação. E no fundo, o Cariri — com sua história de resistência, solidariedade e autocrítica — merece mais do que ser palco para o marketing da extrema-direita.

OPIPOCO

 

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